⁴ Porque em nada me sinto culpado; mas nem por isso me considero justificado, pois quem me julga é o Senhor.
1 Coríntios 4:3,4
Paulo está dizendo aos coríntios que não se importa com o que pensam dele. Não leva em consideração o que as pessoas, sejam elas quem forem, achem dele. Na verdade, a identidade dele não deve nada ao que as pessoas dizem. É como se dissesse: “Não me importa o que vocês pensam. Não me interessa a opinião das pessoas”. A autovalorização de Paulo, sua autoconsideração e sua identidade não estão de forma alguma ligadas ao veredicto e à apreciação que as pessoas têm dele.
A identidade de Paulo pode não estar presa à opinião alheia, mas e quanto a nós? Como alcançamos esse estágio de não sermos controlados pela opinião dos outros?
Paulo está afirmando algo impressionante. “Não me importo com o que vocês pensam nem com o que eu penso.” Paulo nos leva a um território completamente novo e desconhecido. Seu ego não está inflado, está saciado. Paulo está falando sobre humildade — embora eu não goste de usar a palavra “humildade”, pois o que Paulo descreve não tem nenhuma relação com nossa ideia de humildade. O apóstolo está afirmando que alcançou um estágio no qual o ego não chama a atenção para si, assim como qualquer outra parte do corpo. Paulo alcançou um patamar em que não pensa mais em si mesmo. Quando ele faz algo certo ou errado, não mais relaciona o fato a si mesmo.
Em Cristianismo puro e simples, C. S. Lewis faz uma observação brilhante sobre humildade segundo o evangelho no final do capítulo sobre orgulho. Depois que encontramos uma pessoa verdadeiramente humilde, Lewis afirma, não saímos da presença dela afirmando que se trata de alguém humilde. Pessoas assim nunca afirmam que são insignificantes (quem vive dizendo isso é, na verdade, obcecado por si próprio). Depois de conversarmos com alguém que tem a humildade do evangelho, o que impressiona é quanto essa pessoa se interessou por nós. Isso porque a essência da humildade resultante do evangelho não é pensar em mim mesmo como se eu fosse mais nem pensar em mim mesmo como se eu fosse menos; é pensar menos em mim mesmo.
A humildade do evangelho mata a necessidade que tenho de pensar em mim. Não preciso mais ligar as coisas à minha pessoa. Essa humildade dá fim a pensamentos como: “Estou nesta sala com essas pessoas. Isso faz com que seja bem visto por elas? Estar aqui me faz bem?”. A humildade baseada no evangelho significa que não relaciono mais cada experiência e cada conversa à minha pessoa. Na verdade, deixo de pensar em mim mesmo. É a liberdade que vem do autoesquecimento. É o descanso bendito que somente o autoesquecimento nos oferece.
A humildade verdadeira que brota do evangelho significa ter o ego satisfeito, não inflado. Trata-se de algo absolutamente singular. Estamos falando de autoestima elevada? Não. De baixa autoestima? De jeito nenhum. Isso em nada se relaciona com autoestima. Paulo simplesmente se recusa a entrar nesse jogo. Ele deixa bem claro: “Não me importo com sua opinião, mas também não me importo com a minha” — e esse é o segredo. A pessoa verdadeiramente humilde não é aquela que se odeia ou se ama, e sim a que tem a humildade do evangelho. É uma pessoa que se esquece de si mesma e cujo ego é igual aos dedos dos pés. Eles simplesmente exercem sua função. Não imploram por atenção. Os dedos simplesmente trabalham; o ego simplesmente trabalha. Nem o ego, nem os dedos chamam atenção para si.
(Trecho do livro - Ego Transformado - Timothy Keller)


Comente...